
Este é um trecho de um capítulo do livro "Viver no Novo Mundo"; volume 2 da série O Mensageiro; ainda inédito. Se você gostaria de ver este livro publicado, pode ajudar que isso aconteça: compartilhe e divulgue para que chegue a mais pessoas e possamos fazer uma campanha de crowdfunding para financiar a impressão do livro. Gratidão. ༀ AUM ॐ
Grande parte do que forma nossas características de intenção, personalidades e capacidade de agir e influir no mundo é ensinado nos primeiros anos de nossas vidas, durante a infância. por isso, vamos agora examinar algumas das marcas que carregamos pela vida, e que nos são deixadas pelo modo como vivemos nossas primeiras lições ao iniciar nossas vidas como bebês e crianças no plano físico terrestre.
Porque as pessoas sentem-se tão inclinadas a obedecer? Porque tantas querem que lhes seja dito o que devem fazer? Porque tantas, mesmo adultas, tendem a esperar que lhe digam o que fazer e como viver suas vidas? Curiosamente, ao mesmo tempo, quando alguém sabe o que está fazendo (ou pelo menos acha que sabe) esta pessoa não quer ouvir os outros. Ela se ressente e fica chateada se você tenta dizer a ela o que fazer. Todos já ouvimos a frase: "não tente me ensinar o meu trabalho."
Esse é um contraste interessante: quando falamos do trabalho – ou seja – de algo para o que aquela pessoa estudou ou foi preparada para fazer, ela sente que sabe o suficiente para realizar e decidir. E quando sente-se assim, ela quer assumir a responsabilidade e fazer as coisas à sua própria maneira.
O fato é que a maior parte das pessoas atualmente está muito mais preparada para o trabalho do que para a vida. Elas estudaram e pesquisaram e executaram suas tarefas por tanto tempo, que de um modo ou de outro, sentem-se preparadas e auto-suficientes no trabalho grande parte do tempo.
Mas não para a vida. As escolas não ensinam para a vida. Apenas para o trabalho. Então, a maioria das pessoas está, na verdade, muito despreparada para a vida. Entende perfeitamente aquilo que se refere a executar suas ações profissionais, mas absolutamente não entende como viver. Todo trabalho, por mais complexo que seja, é apenas um fragmento, apenas uma especialização, dentro da infinita variedade e grandeza da experiência de viver.
Muitos isolam-se no trabalho, curiosamente, porque tem preguiça, porque não querem se dar ao trabalho de aprender mais ou porque simplesmente tem medo do desafio de viver plenamente. O modo como muitos resumem suas vidas ao trabalho é apenas um escudo, a expressão externa de um profundo despreparo frente à vida. O trabalho torna-se o campo conhecido, a zona de conforto, o assunto dominado. Dentro dele, a pessoa está confortável. Há regras, metas e expectativas explícitas. Algumas empresas tem inclusive manuais de conduta, basta lê-los e você sabe como se portar em qualquer situação – mais ainda: se há um manual, e você simplesmente segue o manual – tem a sensação de que está garantido, não pode errar, sente-se protegido pelas regras.
Ao mesmo tempo em que tudo isso é verdade, outro aspecto também é interessante na atitude no trabalho: deixe alguém sem supervisão, sem que outro esteja tomando conta, sem que haja um elemento externo dizendo o que deve ser feito, e essa mesma pessoa fará as coisas ao seu próprio modo. Todos se ressentem contra alguma regra. Parece contraditório, mas não é: As pessoas não estão seguindo as regras para chegar ao resultado, resolver o problema ou simplesmente realizar do melhor modo a tarefa.
Elas estão seguindo as regras para serem amadas. Porque foram levadas a crer que somente seguindo regras e sendo boazinhas elas serão amadas.
Apenas porque acreditam que este é o único caminho para serem aceitas, para serem cuidadas, para receberem amor, para terem amigos. Por isso, se não há ninguém para testemunhar, elas não seguem as regras estritamente. O que não significa que vão fazer tudo errado. Apenas não vão se preocupar em realizar cada passo de modo ritualisticamente preciso.
As regras funcionam porque foram bem pensadas? Não. Ao contrário: todos conhecemos um número infinito de regras absolutamente sem sentido. As pessoas fazem o que se espera delas porque entendem isso como uma receita para serem aceitas, admiradas e eventualmente, para justificar seus erros.
Mas a vida é diferente da realidade do trabalho. É múltipla, complexa e nela não existe manual. Embora existam regras sociais de convívio, ainda assim não existe garantia que o que você vai fazer na vida está certo. A vida é muito mais que um espaço ocupado por uma pequena atividade de uma relevância quase sempre irrisória para o mundo como um todo, como um escritório ou uma fábrica. É infinitamente mais rica, complexa e maravilhosa que isso.
As origens do comportamento de esperar que outros decidam e o sentimento de que somente será amado se cumprir as regras estão entranhadas em nós desde muito cedo. Elas nascem da combinação criada pela nossa absoluta fragilidade quando nascemos, somada ao triste tipo de relação que muitas famílias (ou, na falta delas, as pessoas que educaram a criança) estabelecem desde muito cedo, que é o amor "condicional" ou "condicionado".
"Amor Condicional"
Antes de prosseguir, é importante entender uma verdade profunda: estamos usando o termo "amor condicional" para facilitar o entendimento, porque infelizmente esse é um termo que faz sentido para muitas pessoas. Na verdade, isso não existe. Tudo aquilo que é condicionado a comportamento, obediência e conformação para existir não é amor. É outra coisa, muitíssimo diferente. Pode ser necessidade, paixão, desejo, vontade, pode ser busca de poder ou controle. Pode ser preocupação, pode ser responsabilidade. Pode ser inúmeras coisas, negativas ou positivas.
Mas o Amor é incondicional. Amor é apenas sentimento puro, nada mais. O amor não depende de nada vindo do outro. Não depende do que o outro faz. Ele nasce dentro de você. Ele não tem razão ou lógica. Ele não aumenta quando o ser amado acerta, nem diminui quando ele erra. Infelizmente, muitas pessoas pouco sabem sobre o que é amor, e usam esta palavra para denominar coisas que nada tem a ver com ele.
O Amor verdadeiro não se modifica, embora suas expressões externas sejam infinitamente variadas e adaptem-se às necessidades e circunstancias. Há momentos em que você tem de repreender seu filho. Há momentos em que tem de dizer ao seu amigo para ficar longe, respeitar e não interferir. Há momentos em que você tem de dizer a quem você ama: por favor, me deixe sozinho, você não está me fazendo bem. Mas mesmo no momento em que você faz qualquer uma dessas coisas, no seu interior, se ama de fato, você sabe que o sentimento não mudou, não sumiu, não desapareceu. Você sabe que é possível amar até mesmo quem não lhe faz bem.
Portanto, podemos continuar agora, para a conveniência do entendimento apenas, a usar o termo "amor condicional". Faremos isso porque é importante para o entendimento do restante do assunto; mas agora que você sabe, procure não se esquecer:
É incondicional, ou não é amor.
Amor condicional não existe.
Absoluta Fragilidade
O ser humano nasce completamente dependente, incapaz de sobreviver sem cuidados intensivos; sem receber uma dedicação ininterrupta e quase exclusiva de outro ser para garantir que aquela vida siga. Há nisso uma intenção e uma lição importantes. É a primeira das muitas lições que aprendemos a cada vez que chegamos a este mundo: não podemos sobreviver sozinhos. Fomos feitos para interagir, trocar, tocar, integrar. Nossa chegada ao mundo, sabiamente, nos ensina imediatamente:
Se houver separação, não haverá vida.
Cada um de nós já nasce com uma razão para sentir infinita gratidão, pelo menos pelo Ser que nos permitiu viver. Não apenas nos trouxe à vida. Mas que passou anos dedicando-se a nos manter vivos. Durante os primeiros anos, não apenas somos dependentes, mas também não ajudamos. Não há nada de útil que um bebê possa fazer para outro ser. Ele consome recursos, energia, tempo, dedicação. Ele apenas recebe. E é assim que deve ser.
Com isso, é ensinada uma importante segunda lição: a vida de um ser humano deve existir porque há amor incondicional. Durante anos os outros seres não podem beneficiar-se em nenhum aspecto de "contribuição ou utilidade" vinda de um bebê. Os outros Seres não "ganham" nada, por assim dizer. Mas mesmo assim, dedicam-se mais àquele ser do que a si mesmos. Sim, naturalmente: a lição não é apenas para o ser que chegou: é também para aqueles que o receberam.
No modo natural de concepção neste planeta, o que deve garantir que um bebê viva é o amor. Portanto, devemos ter gratidão infinita pelo amor que nos é dado, desde o primeiro instante.
Como fruto da absoluta dependência inicial, aprendemos ainda que, se não formos cuidados, sofreremos. Desde muito cedo associamos separação a sofrimento. Sentimos que, separados de quem nos cuida, passamos fome. Frio. Sede.
Bebês não conhecem o tempo: eles chegam a este mundo apenas com os sentimentos e os instintos que fazem parte da natureza. E o tempo não é um elemento da natureza, é na verdade apenas um conceito, uma criação intelectual dos seres humanos. Na natureza, não existe tempo: O que existe é a dinâmica do movimento e sucessão de acontecimentos: uma planta não floresce porque o calendário diz que é primavera. Ela floresce porque o movimento do planeta e a sucessão de acontecimentos nela e no mundo em torno dela produziu este efeito. O tempo não passa de um constructo, uma concepção intelectual humana.
Para um bebê, quinze minutos chorando sozinho de frio e fome no escuro são uma eternidade. Como todos os seres que vivem integrados à sua própria natureza, só o que existe para ele é o AGORA, o momento presente. Ele apenas SENTE. E a sensação de frio e fome para um bebê significa a coisa mais próxima que seu instintos associam ao conceito de morte.
Por isso eles choram como se suas vidas dependessem disso. No único “tempo" que existe para eles, o AGORA, eles sentem que podem morrer. Em sua pequena inocência, pureza e desconhecimento, isso nada tem de absurdo: de fato, eles estão certos: se aquela situação permanecer, o resultado seria a morte.
Esta associação "separação = sofrimento" existe originalmente para ensinar que todos somos Um. Ela tem seu papel, mas uma vez que fosse aprendida, daria lugar à segurança natural que vem do amor incondicional; de saber que não será esquecido, não será abandonado. Que pode confiar sua vida a outro Ser que também saiba que todos somos um. Esta é uma lição importante. Infelizmente, muitos são gerados e criados de um modo completamente diferente do modo previsto para a experiência neste planeta.
Nestes modos diferentes, criados por regras e convenções sociais intelectualizadas, racionalizadas, muitas vezes a lição de que Somos Um e a experiência do amor incondicional não são adequadamente experimentadas pelo novo ser gerado, porque aqueles que o geraram não podiam ensinar.
Porque a nenhum ser é possível dar o que não tem.
Se a lição fosse vivida e incorporada ao novo Ser, passaria a fazer parte dele, que com isso, seria delas liberado para seguir em frente com outras lições.
Se a lição não foi aprendida no início, durante toda a vida continuará precisando aprendê-la. E por isso vai sentir que toda separação é necessariamente igual a sofrimento. Vai criar pela vida afora inúmeros apegos que o farão sofrer.
Cada vez que estiver sozinho, sentirá medo e vazio. Porque é isso que foi ensinado a sentir desde muito cedo. Terá dificuldade em entender que estar só, por escolha, quando se é auto-suficiente, pode ser algo bom, precioso e necessário. Para que haja diálogo interior, para que ele conheça a si mesmo, assuma a responsabilidade pelas escolhas da sua vida, de modo feliz, sem esperar que outros escolham por ele. Para que possa agir do modo que acredita, fazer aquilo que fala à sua consciência e ao seu interior, ao seu próprio senso de missão.
Poderia assim, viver de modo autêntico, sem necessidade de regras e controles; porque um Ser que aprende as lições "Somos um" e "Amor incondicional" no início da sua vida, tem as condições básicas para viver de um modo ético, moral e positivo.
A geração fora do amor incondicional
Mas a nossa sociedade, tristemente, vive comportamentos insanos; capazes de corromper até mesmo a pureza do momento precioso da chegada de um novo ser a este mundo. Desde há muito tempo, e ainda hoje, há pessoas que têm filhos por razões egoístas, individualistas, por interesse pessoal ou até por razões econômicas. Isto faz com que o Ser que está sendo recebido neste mundo seja alvo de interesse egoísta, ao invés de doação e amor incondicionais. Um Ser que desde a concepção, está sendo usado como uma ferramenta para os interesses alheios.
Um ser que chega a este mundo nessas condições infelizes tem uma realidade muito dura à sua frente: aquela do chamado "amor condicionado", que não passa de interesse egoísta. Se os próprios seres que o geraram não tem por ele amor incondicional, não têm a motivação correta para quererem que ele exista – como poderia ele aprender o que é amor incondicional?
Desde o nascimento, nessas condições, há a carga da expectativa de um "serviço" a ser prestado pelo novo ser, quais sejam: existir e permanecer vivo, para gerar um determinado benefício a outro Ser. O cuidado que será dispensado a essa nova vida não está de fato motivado pelo amor, mas sim, pelo interesse. Nessas condições extremamente egoístas, será dado a esse ser o estritamente necessário para que fique vivo. Pode inclusive não haver nenhum interesse em sua alegria, felicidade e bem-estar. Apenas o interesse da sobrevivência para o cumprimento da "função" para o qual foi gerado.
Agora leia novamente o Parágrafo acima, pensando não numa criança, mas num escravo. Sim: Isso não é gerar um filho. Isso é produzir um escravo.
Produzido como um escravo, desde sua concepção, este Ser provavelmente terá grandes dificuldades em liberar-se desta origem. Pode passar a vida toda aguardando ordens, ou, rebelando-se, tornar-se um ditador, sentir-se como um "senhor de escravos", como uma forma de "devolver" aquilo que lhe foi dado.
Pode ainda passar a vida toda buscando “corresponder" ao serviço que lhe é esperado, exatamente como lhe foi ensinado: isto é o que ele SENTE, pois desde que nasceu foi ensinado a "pagar" deste modo para ser cuidado e sentir-se "amado".
Jamais imagine que, pela falta da linguagem, os bebês não percebam profundamente tudo que os cerca: Quando bebês, os seres humanos tem um talento natural para a perfeita percepção da INTENÇÃO dos outros seres. O bebê SENTE a INTENÇÃO no outro, exatamente do mesmo modo como ele sente qualquer coisa nele mesmo.
Este talento vai sendo esquecido ao longo da vida, porque deixamos de olhar as pessoas nos olhos; porque o foco de nossa atenção vai se tornando cada vez mais efêmero, e assim permitimos substituir este talento por nossas diversas formas de linguagem e comunicação. Do mesmo modo, muitas vezes a lição de que SOMOS UM vai sendo esquecida. E quando esquecemos uma lição, ela retorna para nos ensinar novamente... [capítulo completo no livro Viver no Novo Mundo]